A arte de cuidar: a resiliência do cuidador de idosos com Doença de Alzheimer

A arte de cuidar: Você conhece alguém que precisa lidar com casos de Doença de Alzheimer (DA) na família (ou, talvez, você mesmo(a) seja esta pessoa)? Em razão da alta prevalência da DA na população idosa em nosso país, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2021, o número de diagnósticos ultrapassa um milhão e meio de indivíduos brasileiros vivendo com demência. Esta realidade, cada vez mais frequente nos dias atuais, exige o manejo de emoções e sentimentos, além do ajuste às tarefas do cuidado.

É certo que idosos com Doença de Alzheimer precisarão de auxílio para a realização de atividades de vida diária (AVDs) nas fases mais avançadas da demência. Desse modo, algumas famílias recorrem a cuidadores formais (profissionais e/ou instituições) ao passo que, muitas vezes, o papel de cuidar é exercido de modo informal por familiares, amigos ou vizinhos, os quais nem sempre possuem o suporte necessário.

Cada núcleo familiar apresenta seus próprios recursos e, por conseguinte, diferentes estratégias de atuação frente aos desafios advindos com o diagnóstico da DA. No entanto, há diversos fatores que influenciam neste processo, como descreve Falcão (2012) no livro “Doença de Alzheimer: uma perspectiva do tratamento multiprofissional”, sendo eles: as características do cuidador (idade, gênero, estado civil, recursos psicológicos de enfrentamento, etc.); as características do próprio idoso(a) com DA (como o estado de comprometimento cognitivo atual); e a qualidade da relação com o familiar que prestará o cuidado e demais características da rede de suporte.

E, por falar em rede de suporte, ela é importantíssima não apenas para a pessoa idosa com Alzheimer mas, também, para o seu cuidador. Assim, embora os familiares e cuidadores atentem à qualidade de vida e bem-estar da pessoa com DA, é preciso que o autocuidado do próprio cuidador/familiar também ocorra. Neste sentido, um suporte adequado – familiar ou profissional – pode atenuar os eventos estressores relacionados à tarefa de cuidar, evitando-se a sobrecarga.

Além disso, felizmente, temos a capacidade de nos adaptar às novas realidades, à medida que as circunstâncias mudam. A resiliência surge, então, como uma importante estratégia de ajustamento psicológico, podendo atuar como fator de proteção para os indivíduos frente a situações adversas.

O termo, que tem sua origem no latim “resílio” (re salio), significa “ser elástico”. Por isso, foi usado, inicialmente, na Física, como documenta Yunes (2001) em sua tese intitulada “A questão triplamente controvertida da resiliência em famílias de baixa renda“. Para explicar seu significado, utiliza-se a seguinte analogia: uma bola de borracha, por exemplo, é capaz de resistir a um estresse prolongado sem sofrer modificações permanentes em sua estrutura, logo, apresenta resiliência.

Com o passar do tempo, houve a transposição do significado de resiliência para as Ciências Humanas e, mais recentemente, para a área médica e psicossocial. Assim, uma pessoa resiliente, tal qual um objeto elástico, é capaz de sobreviver a eventos estressores sem apresentar sequelas imutáveis em sua saúde emocional ou cognitiva. Porém, trata-se da capacidade de superação de um problema no sentido dialético, ou seja, ele não é eliminado, mas sim, ressignificado.

Vale destacar que a resiliência não pode ser pensada como algo inato (que nasce com o ser humano), nem como algo que é adquirido com o desenvolvimento, uma vez que ela é um processo dinâmico, que envolve fatores genéticos e ambientais.

Por fim, algumas dicas de como estimular a resiliência e ressignificar o cuidado:

  • Aceite a doença e não se culpe em relação ao diagnóstico ou progressão do quadro;
  • Desenvolva atitudes positivas, focando na resiliência como uma capacidade humana: cultive o otimismo e a flexibilidade;
  • Procure aprender sobre a doença, recorrendo, por exemplo, aos canais da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz);
  • Apoie-se nos demais: fale abertamente com seus familiares sobre sentimentos, preocupações e dificuldades, fortalecendo a rede de suporte;
  • Gerencie seu estresse: ele não vai desaparecer. Faça pausas sempre que necessário; e
  • Busque atenção psicogerontológica, de modo individual ou em grupos de apoio.

Recomendamos que acompanhem as próximas matérias, pois o objetivo é dialogar com informações de sensibilização e conscientização aos cuidados relacionados à prevenção e tratamento da Doença de Alzheimer.

Assinam este artigo:

Manuela Lina da Silva

Gerontóloga pela Universidade de São Paulo (USP), com realização de intercâmbio de Graduação pelo Programa de Mobilidade Acadêmica em Gerontologia da Escola Superior de Saúde (ESSa) do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) – Portugal. Exerceu estágio-voluntário na Santa Casa de Misericórdia de Bragança – Portugal e foi bolsista no Projeto Bairro Amigo do Idoso – Brás/Mooca (SP). É assistente da Coordenação do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS).

Tiago Nascimento Ordonez

Gerontólogo pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Estatística Aplicada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Exerceu a função de Gerontólogo na Prefeitura de São Caetano do Sul entre os anos de 2014 a 2016. E esteve como coordenador do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFVI) da Prefeitura de Diadema entre 2017 e 2020. Atualmente é membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG) e pesquisador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva

Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.

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